terça-feira, 23 de julho de 2013

MARISTELA.

Nada mais do que eu disser daqui pra frente sairá da minha boca.

Não consigo entrar no molde que tua mão divina me prometeu. Enfrento fila de banco, vou à padaria, bato perna pra encontrar o menor preço, me descabelo, me desconjuro diante do espelho, não passo protetor solar todo dia, sorrio de boba, meu cabelo não tem forma, minha unha do pé está preta, minha unha do dedo está comida, tenho o corpo imperfeito, unha encravada, umbigo disleixo,  sorriso torto, barriga d’água, pé cascudo e dente quebrado. Tenho preguiça de me depilar, tenho angústia ao acordar, tenho medo de não render, tenho sono pra esquecer  injúrias. “Sorria pra foto, pequena, o mundo quer ver a tua felicidade”. Mesmo contrariada eu sorrio e entrego o meu pescoço numa bandeja de camelô. “Ta linda”, amarelo, “vira um pouco a tua esquerda” olhos marejam, “só mais uma” e um flash de luz reina cegando-me.



Não sofro por bolsa de grife, não faço cabelo no salão das beldades, não sou “uma fofa”.  Sou aquela que grita e põe tudo a perder. Arroto em mesa de restaurante fino, falo pouco, não sou obrigada a fazer social com quem nunca me viu, me conheceu, me tocou de verdade a mão. Nunca diga que da minha boca saiu  “sou magra mas é genética” (raramente é), “sou calma e carinhosa” (perco as rédeas de vez em quando), “foi um presente” (tenho os meus méritos). Se eu levo um tapa eu dou outro. Se caio levanto. Se me derrubam eu rio na próxima queda que não será a minha.  A perder? Nada. A ganhar? Muito menos. 

Eu quero aquilo que ninguém viu, que chega onde eu não conheço. Que fede de doer, que dói de latejar. E se eu acabar os meus dias, pobre, feia e só, chegue bem perto, porque eu vou estar de punho cerrado segurando bem forte ali na palma da minha mão toda essa crença que me faz seguir todos os dias sem lamentar. O meu baú de riquezas é pequeno, não cabem sacolas de luxo, sapatos de cristal ou páginas de revistas estampando rostos que não são meus. Sem champagnhe ou foi grãs (quem sabe uma média com leite e pão na chapa) vou teimando em sair da linha que insistem em me colocar. Eu não sou aquela que aparece sorrindo no jornal.

 Sou Maristela Branco Assis, tenho os pés cravados na terra, tenho raiz.